segunda-feira, 25 de janeiro de 2010




A DIFICIL QUESTÃO DA LIDERANÇA


Ola leitores do “Índios do Nosso Tempo”, nesta primeira edição do ano estaremos comentando sobre: A DIFICIL QUESTÃO DA LIDERANÇA.
Afinal o que é ser líder? Como exercer a liderança? Como tornar-se um líder? Bem no nosso convívio os lideres em sua maioria são políticos que eleitos por nós, vão representar nossos idéais e interesses, desenvolvendo programas, leis, projetos porem estes lideres ou esta ‘nossa’ forma de liderança vem com certas regalias. Imunidade parlamentar, acesso irrestrito a verbas publicas e a uma serie de ‘apoio’ a sua atividade (passagens aéreas, assessores, carros, casas, etc). Tudo com a justificativa de que ‘tem que se ganhar bem para poder representar o povo’, para dialogar com os ‘grandes ‘de igual pra igual'. E dessa maneira construíram um segmento a parte de toda a sociedade envolvente, uma ‘classe’ distinta, é só ver as ultimas noticias nos jornais sobre os escândalos do mensalão, recebimento de propinas, tudo porque em realidade os interesses há muito já não são do coletivo, mas sim de interesse de determinados segmentos, que em sua maioria são os próprios políticos, partidos ou a classe dominante e abastada que eles por sua condição financeira acabam por representar e se aliar, e o povo nisso? Dorme em berço esplendido a cada eleição votando e aceitando as barganhas e migalhas dadas durante o período eleitoral, favores, abraços e beijinhos nas crianças, tapinhas nas costas, e tudo que já vimos e passamos várias vezes.
Já no universo indígena um bom líder, é aquele que da o exemplo, que trás consigo a ‘voz de sua comunidade’ e ao contrario das regalias de nossos políticos, tem que dividir com todos os ‘louros da vitoria’, realizar as tarefas propostas deixando sempre de lado o 'seu', para prevalecer sempre o do 'coletivo', sua fala é sempre a do coletivo nunca a sua individual. As lideranças indígenas em sua maioria não são eleitas, são reconhecidas como lideres por sua capacidade de visão, de projetar propostas e soluções, de achar caminhos saudáveis para sua comunidade.
Mas o que aconteceu quando se deu o encontro dessas formas de ‘ser liderança’? Os indígenas ao longo de sua história de contato e envolvimento com a sociedade envolvente foram tendo que se organizar perante nossas instituições de outra forma que não a sua própria (sua maneira de liderança não é reconhecida no dialogo intercultural, por mais que a constituição garante a sua distinção étnica, e que os ‘representantes’ aceitos por nós não os representam efetivamente), desta forma os índios delegaram a classe dos mais jovens indígenas que aprenderam a língua estrangeira com maior facilidade (e ao mesmo tempo, tinham menos envolvimento e conhecimento sobre as praticas culturais de seu povo).
Recentemente (há mais ou menos uns 35 anos) os índios começaram a se organizar a nossa maneira burocrática, através de associações, ONg’s, com CNPJ (pois sem ele não se pode conseguir verba pra nenhum projeto ou ação) porem estas jovens lideranças indígenas que agora se fixam na cidade tiveram e tem muita dificuldade de serem respeitados e reconhecidos aos olhares de sua comunidade (muitos tem dificuldade de serem reconhecidos como seu representante perante a sociedade), bem verdade que muitas ações do movimento indígena sofreram com pessoas de má índole que apareceram para ajudá-los mas na realidade usavam os indígenas para causa própria, colocando algumas associações a beira do colapso, outras que desenvolveram ações interessantes foram sucateadas (parece que ainda temos a necessidade de ver não dando certo as coisas com os índios, pois como se diz pelas ruas 'o índios é primitivo e atrasado', 'temos que trazê-lo a luz da civilização'!E assim vão se fazendo programas de educação, de saúde e tantas outras que na realidade só funcionam para conseguir deslocar verbas,mas as ações nunca serão feitas muito menos acarretaram melhoria e mudança na situação que impusemos a eles, o contato e envolvimento com nossa forma de ser e agir, as enfermidades de saúde (e do espírito).
Lembro aqui de Juruna Xavante que foi eleito no Rio de Janeiro num movimento encabeçado por Darcy Ribeiro, para que os índios tivessem espaço no Senado e no Parlamento, lembra de seu gravador registrando as promessas dos políticos? Vocês sabem como esta liderança terminou? E Paulinho Paiakan Kayapo, você sabe o que realmente aconteceu?
Bem verdade que o exemplo dado por nossas instituições e nossos lideres políticos não são bons para a construção de uma realidade melhor e mais ética. E essas lideranças da cidade ficam espremidas entre o tradicional e a maneira ‘corrupta e desleal’ da sociedade envolvente, e como se manter ético perante tudo isso? Como não escorregar nos desejos e nas ilusões reluzentes do mundo contemporâneo?Como se manter atrelado aos conceitos e ideais de lideranças indígenas vivendo e organizando seu planejamento numa panela de pressão de interesses escusos, nesse constante 'toma lá da cá', 'de pouca farinha meu pirão primeiro'.
E os indígenas que se organizarem e perceberem que entre vocês,quantos são, tem a força de eleger muitos dos seus, mas a questão é os índios querem isso? Ter lideranças indígenas os representando junto as nossas instituições?
Fiquemos atentos este ano tem eleição. Aguardo vossos comentários, até!