segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A RELAÇÃO DOS CIDADÃOS DO MUNICIPIO DE BENJAMIN CONSTANT COM O MUSEU MAGÜTA- POVO INDÍGENA TIKUNA. APONTAMENTOS SOBRE MUSEUS, AFINAL PRA QUE UM MUSEU?

Estimados leitores, vamos aqui para mais um artigo de nossa coluna, lembramos que nosso tom sempre provocativo é devido à idéia de estabelecer dialogo com a mais vasta gama de pensamentos sobre os temas que aqui decorremos e que nós todos nos posicionemos sempre sobre os temas!
Lembro ainda que mantemos um blog, http:/indiosdonossotempo.blogspot.com onde estão as matérias, com mais fotos (que salvo o primeiro artigo sobre o Congresso em Tarapoto –Peru, contou também com a colaboração de um fotografo do evento) que são de minha autoria, de povos indígenas do Maranhão, Mato Grosso, enfim...Nesta edição estaremos discorrendo sobre uma situação especifica e peculiar que havia lido há tempos atrás em um artigo do professor Jose de Ribamar Bessa Freire (que alias numa recente breve pesquisa na internet parece que andou utilizando escritos meus sobre os Kayapo-mas como não teria sido publicado e sim dialogado/escrito na pós-graduação em educação indígena da UFF em 2006..., mas bem). O artigo “a descoberta dos museus pelos índios” se salvo engano, foi publicado em 1999, apontava sobre certo etnocentrismo, que agora estamos podendo vivenciar. Sendo este o tema que trata nossa coluna aqui, A RELAÇÃO DOS CIDADÃOS DO MUNICIPIO DE BENJAMIN CONSTANT COM O MUSEU MAGÜTA- POVO INDÍGENA TIKUNA. APONTAMENTOS SOBRE MUSEUS, AFINAL PRA QUE UM MUSEU?
Não tentaremos descrever ou explicar quem são os Tikuna, outras informações possíveis sobre este povo e a questão geopolítica que envolve o que este povo e o tema aborda ver autores como João Pacheco, Curt Nimuendaju, entre outros (uma pesquisa pode ser realizada na biblioteca que há anexo ao museu Magüta), aqui me concentro numa perspectiva especifica de olhar a relação entre paisanos benjaminenses e indígenas.
A Formação do Museu Magüta deu-se em 1988, época da nova Constituição Brasileira, lembra-se? Neste época, os Magüta/Tikuna lutavam pela defesa e garantia de seu Território (hoje tudo parece mais tranqüilo com a OIT 169, entre outras melhorias no dialogo intercultural), mas neste recente passado os povos originários sofriam por todo país, e ali nos rincões da Amazônia não seria diferente. Grupos armados, madeireiros entre tantos outros representantes da ‘frente de expansão’ entravam em conflito periodicamente com os indígenas.
Os Tikuna junto com pesquisadores de outros lugares do país, como a Dra. Jussara Gomes Gruber, passaram pelo menos três anos pensando/discutindo, a organização e montagem da coleção do Magüta. Bem verdade, acreditamos que durante este período os indígenas puderam não apenas colaborar com as pesquisas dos etnólogos, historiadores e lingüistas, como ‘incorporaram’ um importante “aliado” (alem dos pesquisadores e indigenistas que se imbuíram da causa) à sua luta e ao seu discurso étnico, pois naquela época, este povo teve que lutar também para ser reconhecido como um ‘grupo indígena brasileiro’ (tem território em outros países) e assim também seu Território reconhecido. O museu como arma, o museu espaço que daria/deu/dá à legitimidade ao movimento e reconhecimento aos indígenas enquanto diferença, demonstrou neste período ser um grande “aliado”.
Mas sofreram uma dura oposição por parte dos Políticos, (e atualmente percebe-se certa invisibilidade perante a cidade, mesmo sendo principal atrativo turístico da cidade) Latifundiários, e principalmente os Madeireiros, chegando estes a cooptar apoio da população de Benjamim Constant para manifestações nas ruas, gestos de hostilidade, de ridicularizar e menosprezar a imagem do povo, categorizando os indígenas como “caboclos” (categoria mais próxima da possível idéia de ‘branco’ que são os paisanos locais que, o ‘branco civilizado industrial turista’ que se pretende demarcar enquanto distinção).
Em meio a protestos e ajuda da imprensa, que cumprindo seu papel apresentou os fatos denunciando as autoridades locais, o museu foi inaugurado em 1991, conquistando prêmios pelo esforço, destaque para “Museu Símbolo de 1995” pelo ICOM, e também o dado pelo IPHAN por sua preservação da cultura brasileira.
Mas, curiosamente nos dias de hoje, o Magüta continua enfrentando se não tanto mais a hostilidade, com certeza a invisibilidade e não participação dos cidadãos no dia a dia, na relação com o museu e sua história com a própria identidade da cidade e da população local. É um espaço para ser celebrado, mas é ignorado pela população do município.
Os Tikuna afirmam que o museu é indígena, mas também de todos de Benjamim Constant que alias tem livre acesso ao museu, mas mesmo assim não freqüentam e não abraçam o museu.
Mesmo sendo também importante a nível econômico- trazendo turistas ao município e movimentando a estagnada circulação de bens de consumo, informação, dinheiro e tanto mais, não recebe nenhum apoio, incentivo fiscal da prefeitura, não há nenhum tipo de convênio com a companhia de energia para isenção das taxas-e vez por outra estão em dificuldades, pois o que mantém toda estrutura nos dias atuais é praticamente a visitação de turistas que pagam cerca de cinco reais por uma visita guiada. Nem mesmo, ate os dias de hoje estabeleceu-se incrementos de pesquisa com a Universidade Federal do Amazonas, que mantém um campus na referida cidade.
O artigo de Bessa Freire, escrito já há algum tempo, que apontei no inicio de nossa coluna vem descrevendo a situação que nos períodos iniciais da época de formação, inauguração do Museu Magüta (e que atualmente ainda insiste em persistir, mesmo que numa outra perspectiva- e é o que chamo aqui de invisibilidade do museu) os paisanos da referida cidade se referiam (fala o artigo) ao museu com certo ‘preconceito’ afirmando que museu é/era coisa de índio, menosprezando sua importância e tudo mais devido também aos fatos históricos brevemente descritos acima.
Bessa Freire vai estabelecendo ao longo de seu trabalho um comparativo com o conceito/idéia que os grandes centros urbanos como, por exemplo, São Paulo, Rio de Janeiro, e outras metrópoles têm/desenvolveram acerca de museus. As instituições museológicas têm, em sua formação o caráter de ser/pertencer às classes dominantes, aos interesses de um determinado pensamento cientifico/social, de quem controla o ‘sistema’ e/ou a ‘situação’. Os famosos “gabinetes de curiosidades” do século XIX.
Afinal o que constitui um Museu? Seu acervo? A história de sua sede?Os homens que assim o intitularam? Uma das muitas salas de ‘curiosidades’? E ainda, mas o que nele contém? História? Pesquisa? Coleções? O que o museu mostra?Ou pra que ele serve ou se propõe?
Segundo um indígena questionado sobre para que museu? Disse: “Para não esquecer”.
A idéia local dos paisanos sobre museu, afirma o artigo de Bessa, “vem de um etnocentrismo local contra aos indígenas que são tidos como caboclos, não mais índios autênticos”. Mas esquecem de questionar ou perceber que as ‘mudanças de autenticidade’ ocorridas com este povo (e outros mais ao longo da história de ‘contato’) foram em decorrência muito mais, por terem sido escravos no tempo dos seringais, por terem ‘aceito’ e alimentado o sistema exógeno que se apoderou de seus territórios, sua vida, cosmovisao, religião, do que uma feliz vontade. Foi e tem sido sim uma necessidade de “mudar para continuar sendo o mesmo”- diferente... Magüta antes de qualquer outra opção.
O artigo é um tanto irônico ao estabelecer um paralelo com a categoria de ‘caboclo’ para os locais, locais seriam os paisanos do município, que afirmavam-se perante a alteridade indígena Magüta, ser/pertencer a categoria de ‘civilizados’. Mas a categoria ‘civilizado’, defende o artigo, estaria condicionada a um tipo de perfil, que entre outras características, compreende a instituições museológicas como representante de seu conhecimento cientifico (e não coisa de índio), sua maneira (civilizada) de apreender o mundo, englobando outras culturas, cristalizando-as nas prateleiras e catalogações de acervos dos museus. Longe da concepção etnocêntrica e preconceituosa dos cidadãos do município.
Desta forma então, os paisanos do município seriam ‘caboclos’ (categoria negada por quase todos ‘brancos’ Amazônicos), e os Tikuna, índios, que com apoio de pesquisadores puderam concretizar o conceito de museu, um museu étnico de afirmativa indígena, mas, mais do que isso, de re-afirmativa, lá nos idos de 1992, eco-92, da pluralidade étnica, a diversidade intercultural que somos nós, todos brasileiros, mestiços, mulatos, caboclos, índio, amarelo, azul, negro e outros estados nação/irmãos (árabes europeus...). Mas apesar de todo esse movimento e dos prêmios, a cidade ate os dias de hoje se mantém de olhos fechados para a preciosidade que é ter o Magüta na cidade.
Afirmar que museu é coisa de índio, fechar os olhos e não perceber ainda hoje, os erros cometidos, não fazer distinção é manter tudo o que todos nós estamos submetidos, as condições opressoras, de exploração e destruição, é continuar em pleno século XXI á ser colônia. Queremos expor que fora das amarras que nos vinculam a velhos rótulos podemos e devemos fazer a diferença, avaliar o conflito histórico, rever os preconceitos, nos humanizar e comungar juntos com nossas distinções.
Será que todos nós carecemos de uma categoria que nós identifiquemos? Identifique-se? O que é ser índio? Quem gerou este rotulo? Quem usa? Pra classificar quem? E quem é classificado com ele? Por quem? E as mesmas questões com a categoria “caboclo”?
Com a idéia/conceito de museu quase todos identificam a instituição como um lugar de conhecimento, de pesquisa, de estudo, de guardiã da memória, como afirmado acima sempre do olhar do dominante para com sua ou outra cultura, arraigado no pensamento evolucionista, reducionista, etc.
O Magüta é a expressão de um não aceite a essa situação de forma passiva. Os museus construídos por não-índios não serão/são mais o monopólio do discurso histórico que lhes diz respeito. Com o museu Magüta, e outros que estão/foram construídos com o mesmo perfil, se pretende deixar de ser apenas um objeto musealizável e ser também – os povos originários – agentes organizadores de sua memória.
Se o conhecimento do índio for levado a sério pela ciência moderna e incorporado aos programas de pesquisa e desenvolvimento, os índios serão valorizados pelo que são: povos engenhosos, inteligentes e práticos, que sobreviveram com sucesso por milhares de anos na Amazônia. Essa posição cria uma “ponte ideológica” entre culturas, que poderia permitir a participação de povos indígenas, com o respeito e a estima que merecem, na construção de um Brasil moderno”.(POSEY,1992: 43)
Desculpe por expor tão rápido os referidos assuntos eles dão muito “pano pra manga”, pra lembrar uma amiga Barbara e nos últimos dias aqui na região, acontecimentos é o que não esta faltando, estamos envoltos de acontecimentos: o avião que caiu na TIVJ e que contou com o socorro dos Indígenas Matis, com quase todos passageiros escapando com vida (sendo matéria no jornal de domingo da rede de televisão Globo, o Fantástico), ate a germinação de um proto-movimento estudantil com greve e pedido de mudanças no Instituto Natureza e Cultura-UFAM. É as mudanças demoram, mas chegam... Esperamos ser capazes de sair da estagnação e projetar um futuro melhor pra região amazônica que não apenas exploração de seus recursos e da pauperização de seus moradores, apenas como mão de obra barata. Ou com péssimas condições, sucateamento de educação, pesquisa, saúde, entre outras situações que enfrentamos todos os dias.
Por fim, Devemos todos ser a favor da preservação da herança indígena, da recuperação do patrimônio histórico-cultural do índio, da pesquisa etnológica e sua divulgação científica, conscientizando a opinião pública e o próprio governo da “contribuição indígena à cultura brasileira e universal” e, desse modo, aliando-se aos índios em suas lutas por terra, educação, saúde e cultura. É o que pretendemos aqui nessa coluna Índios do nosso tempo. Teçam comentários, no blog, aguardo vocês , ate o próximo de natal!
artedomito@gmail.com
http://indiosdonossotempo.blogspot.com/



A RELAÇÃO DOS CIDADÃOS DO MUNICIPIO DE BENJAMIN CONSTANT COM O MUSEU MAGÜTA- POVO INDÍGENA TIKUNA. APONTAMENTOS SOBRE MUSEUS, AFINAL PRA QUE UM MUSEU?

Estimados leitores, vamos aqui para mais um artigo de nossa coluna, lembramos que mantemos um blog, http:/indiosdonossotempo.blogspot.com onde estão as matérias, com mais fotos (que salvo o primeiro artigo sobre o Congresso em Tarapoto –Peru, contou também com a colaboração de um fotografo do evento) que são de minha autoria, de povos indígenas do Maranhão, Mato Grosso, enfim...Nesta edição estaremos discorrendo sobre uma situação especifica e peculiar que havia lido há tempos atrás em um artigo do professor Jose de Ribamar Bessa Freire. O artigo “A descoberta dos museus pelos índios” se salvo engano, foi publicado em 1999, apontava sobre certo etnocentrismo, que agora estamos podendo vivenciar. Sendo este o tema que trata nossa coluna aqui, A RELAÇÃO DOS CIDADÃOS DO MUNICIPIO DE BENJAMIN CONSTANT COM O MUSEU MAGÜTA- POVO INDÍGENA TIKUNA. APONTAMENTOS SOBRE MUSEUS, AFINAL PRA QUE UM MUSEU?
Não tentaremos descrever ou explicar quem são os Tikuna, outras informações possíveis sobre este povo e a questão geopolítica que envolve o que este povo e o tema aborda, ver autores como João Pacheco, Curt Nimuendaju, entre outros (uma pesquisa pode ser realizada na biblioteca que há anexo ao museu Magüta), aqui me concentro numa perspectiva especifica de olhar a relação entre paisanos benjaminenses e indígenas.
A Formação do Museu Magüta deu-se em 1988, época da nova Constituição Brasileira, lembra-se? Neste época, os Magüta/Tikuna lutavam pela defesa e garantia de seu Território (hoje tudo parece mais tranqüilo com a OIT 169, entre outras melhorias no dialogo intercultural), mas neste recente passado os povos originários sofriam por todo país, e aqui nos rincões da Amazônia não seria diferente. Grupos armados, madeireiros entre tantos outros representantes da ‘frente de expansão’ entravam em conflito periodicamente com os indígenas.
Os Tikuna junto com pesquisadores de outros lugares do país, como a Dra. Jussara Gomes Gruber, passaram pelo menos três anos pensando/discutindo, a organização e montagem da coleção do Magüta. Bem, acreditamos que durante este período os indígenas puderam não apenas colaborar com as pesquisas dos etnólogos, historiadores e lingüistas, como também ‘incorporaram’ um importante “aliado” (alem dos pesquisadores e indigenistas que se imbuíram da causa) à sua luta e ao seu discurso étnico, pois na época, este povo estava em luta também para ser/ter reconhecido como um ‘grupo indígena brasileiro’ (o povo Magüta mantém território em outros países) e assim também seu Território reconhecido. O museu como arma, o museu espaço que daria/deu/dá à legitimidade ao movimento e reconhecimento aos indígenas enquanto diferença, demonstrou neste período ser um grande “aliado”.
Mas sofreram uma dura oposição por parte dos Políticos, (e atualmente percebe-se certa ‘invisibilidade’ perante a cidade, mesmo sendo principal atrativo turístico da cidade) Latifundiários, e principalmente os Madeireiros, chegando estes a cooptar apoio da população de Benjamim Constant para manifestações nas ruas, gestos de hostilidade, de ridicularizar e menosprezar a imagem do povo, categorizando os indígenas como “caboclos” (categoria mais próxima da possível idéia de ‘branco’ que são os paisanos locais que, o ‘branco civilizado industrial turista’ que se pretende demarcar enquanto distinção).
Em meio a protestos e ajuda da imprensa, que cumprindo seu papel apresentou os fatos denunciando as autoridades locais, o museu foi inaugurado em 1991, conquistando prêmios pelo esforço, destaque para “Museu Símbolo de 1995” pelo ICOM, e também o dado pelo IPHAN por sua preservação da cultura brasileira.
Mesmo sendo também importante a nível econômico- trazendo turistas ao município e movimentando a circulação de bens de consumo, informação, dinheiro e tanto mais, não recebe nenhum apoio, incentivo fiscal da prefeitura, não há nenhum tipo de convênio com a companhia de energia para isenção das taxas-e vez por outra estão em dificuldades, pois o que mantém toda estrutura nos dias atuais é praticamente a visitação de turistas que pagam cerca de cinco reais por uma visita guiada.
Curiosamente nos dias de hoje, o Magüta continua enfrentando se não tanto mais a hostilidade, com certeza a ‘invisibilidade’ e não participação dos cidadãos no dia a dia, na relação com o museu e sua história com a própria identidade da cidade e da população local. É um espaço para ser celebrado, mas é ignorado pela população do município.
O artigo de Bessa Freire, escrito já há algum tempo, que apontei no inicio de nossa coluna, vem descrevendo a situação que nos períodos iniciais da época de formação, inauguração do Museu Magüta (e que atualmente ainda insiste em persistir, mesmo que numa outra perspectiva- e é o que chamo aqui de invisibilidade do museu) os paisanos da referida cidade se referiam (fala o artigo) ao museu com certo ‘preconceito’ afirmando que museu é/era coisa de índio, menosprezando sua importância e tudo mais devido também aos fatos históricos brevemente descritos acima.
Bessa Freire vai estabelecendo ao longo de seu trabalho um comparativo com o conceito/idéia que os grandes centros urbanos como, por exemplo, São Paulo, Rio de Janeiro, e outras metrópoles têm/desenvolveram acerca de museus. As instituições museológicas têm, em sua formação o caráter de ser/pertencer às classes dominantes, aos interesses de um determinado pensamento cientifico/social, de quem controla o ‘sistema’ e/ou a ‘situação’. Os famosos “gabinetes de curiosidades” do século XIX, tudo com forte característica evolucionista.
Afinal o que constitui um Museu? Seu acervo? A história de sua sede?Os homens que assim o intitularam?E ainda, mas o que nele contém? História? Pesquisa? Coleções? O que o museu mostra?Ou pra que ele serve ou se propõe?
A idéia local dos paisanos sobre museu, afirma o artigo de Bessa, “vem de um etnocentrismo local contra aos indígenas que são tidos como caboclos, não mais índios autênticos”. Mas esquecem de questionar ou perceber que as ‘mudanças dessa autenticidade’ ocorridas com este povo (e outros mais ao longo da história de ‘contato’) foram em decorrência muito mais, por terem sido escravos no tempo dos seringais, por terem ‘aceito’ e alimentado o sistema exógeno que se apoderou de seus territórios, sua vida, cosmovisão, religião, do que uma feliz vontade. Foi e tem sido sim uma necessidade de “mudar para continuar sendo o mesmo”- diferente... Magüta antes de qualquer outra opção.
O artigo é um tanto irônico ao estabelecer um paralelo com a categoria de ‘caboclo’ para os locais, locais seriam os paisanos do município, que afirmavam perante a alteridade indígena Magüta, ser/pertencer à categoria de ‘civilizados’. Mas a categoria ‘civilizado’, defende o artigo, estaria condicionada a um tipo de perfil, que entre outras características, compreende a instituições museológicas como representante de seu conhecimento cientifico (e não coisa de índio), sua maneira (civilizada) de apreender o mundo, englobando outras culturas, cristalizando-as nas prateleiras e catalogações de acervos dos museus. Longe da concepção etnocêntrica e preconceituosa dos cidadãos do município.
Desta forma então, os paisanos do município seriam ‘caboclos’ (categoria negada por quase todos ‘brancos’ Amazônicos), e os Tikuna, índios, que com apoio de pesquisadores puderam concretizar o conceito de museu, um museu étnico de afirmativa indígena, mas, mais do que isso, de re-afirmativa, lá nos idos de 1992, eco-92, da pluralidade étnica, a diversidade intercultural que somos nós, todos brasileiros. Mas apesar de todo esse movimento e dos prêmios, a cidade ate os dias de hoje se mantém de olhos fechados para a preciosidade que é ter o Magüta na cidade.
Afirmar que museu é coisa de índio, fechar os olhos e não perceber ainda hoje, os erros cometidos, não fazer distinção é manter tudo o que todos nós estamos submetidos, as condições opressoras, de exploração e destruição, é continuar em pleno século XXI á ser colônia. Queremos expor que fora das amarras que nos vinculam a velhos rótulos podemos e devemos fazer a diferença, avaliar o conflito histórico, rever os preconceitos, nos humanizar e comungar juntos com nossas possíveis distinções.
O Magüta é a expressão de um não aceite a essa situação de forma passiva. Os museus construídos por não-índios não serão/são mais o monopólio do discurso histórico que lhes diz respeito. Com o museu Magüta, e outros que estão/foram construídos com o mesmo perfil, se pretende deixar de ser apenas um objeto musealizável e ser também – os povos originários – agentes organizadores de sua memória.
Se o conhecimento do índio for levado a sério pela ciência moderna e incorporado aos programas de pesquisa e desenvolvimento, os índios serão valorizados pelo que são: povos engenhosos, inteligentes e práticos, que sobreviveram com sucesso por milhares de anos na Amazônia. Essa posição cria uma “ponte ideológica” entre culturas, que poderia permitir a participação de povos indígenas, com o respeito e a estima que merecem, na construção de um Brasil moderno”.(POSEY,1992)
Desculpe por expor tão rápido os referidos assuntos eles dão muito “pano pra manga”, pra lembrar a amiga Barbara e, nos últimos dias aqui na região, acontecimentos é o que não esta faltando: o avião que caiu na TIVJ e que contou com o socorro dos Indígenas Matis, ate a germinação de um proto-movimento estudantil com greve e pedido de mudanças no Instituto Natureza e Cultura-UFAM.
É as mudanças demoram, mas chegam... que possamos sair da estagnação e projetar um futuro melhor pra região amazônica que não apenas exploração de seus recursos e da pauperização de seus moradores, apenas como ‘mão de obra’ barata. Ou com péssimas condições, sucateamento de educação, pesquisa, saúde, entre outras situações que enfrentamos todos os dias.
Por fim, Devemos todos ser a favor da preservação da herança indígena, da recuperação do patrimônio histórico-cultural do índio, da pesquisa etnológica e sua divulgação científica, conscientizando a opinião pública e o próprio governo da “contribuição indígena à cultura brasileira e universal” e, desse modo, aliando-se aos índios em suas lutas por terra, educação, saúde e cultura. É o que pretendemos aqui nessa coluna Índios do nosso tempo. Teçam comentários, no blog, aguardo vocês , ate o próximo de natal!
artedomito@gmail.com
http://indiosdonossotempo.blogspot.com/
texto publicado no jornal.